A reportagem, cujo link colocarei logo abaixo para quem quiser conferir, fala de um professor que reuniu, durante dez anos, definições de palavras dadas por seus alunos, de diferentes idades. A conclusão à qual ele chegou foi que simplesmente crianças observam detalhes que os adultos sequer percebem, pois julgam-se "velhos" ou "grandes" demais para darem importância aos pormenores que, devo dizer, são capazes de dar novas cores a uma vida!
Como somos capazes de esquecer que temos paz quando perdoamos a nós mesmos? Como negar que é a nossa consciência limpa e leve que nos dá a sensação de serenidade?
Há definição melhor para uma mãe do que aquela pessoa que nos entende e depois vai dormir?
Fiquei arrepiada e com os olhos cheios de lágrimas enquanto lia a reportagem em voz alta para o amor da minha vida, afinal, como não compartilhar com quem amamos um fato tão singelo, tão cheio de sentimentos?!
O que me leva a escrever é o fato de eu ter resgatado um pouco dessa pureza ao chegar aqui na Irlanda. Vez ou outra pego-me observando a arquitetura de Dublin, o verde das folhas - que é completamente diferente do verde que temos no Brasil! E não adianta me perguntar, pois não saberei explicar. A única coisa que sei dizer é que parece que estou num filme em HD, mas num filme como os da Disney, cheio de cores vivas!
Desde que mudamos para Rathmines - aliás, maravilhosa região para se morar -, sinto o cheiro das flores toda vez que vou à rua. Agradeço sempre por estar morando no "melhor lugar do mundo".
No caminho para a escola temos a opção de passar por dentro do parque. Vocês são capazes de adivinhar por qual caminho eu opto?
É claro que eu sempre peço para o Matheus para irmos por dentro, pois adoro as cores fortes das flores que parecem de mentira, mas que são de verdade e que perfumam o parque inteiro só para te dar certeza.
Há algumas semanas tivemos o prazer de deitar na grama num dia de sol. Nossa! Que delícia! A grama estava úmida, mas o sol logo tratava de nos esquentar. Fiquei alguns minutos observando o céu, que estava incrivelmente azulado, e depois dediquei-me a observar as nuvens. Até fotografei algumas... e para deleite de vocês, aí está a foto, que não me deixa mentir!
Não sei em que momento da vida começamos a ficar acelerados, mas tenho certeza de que a vida seria muito melhor se esse momento não fosse obrigatório.
Hoje, conversando brevemente sobre a postura das pessoas aqui e no Brasil, lembrei da minha jornada diária antes de vir para cá.
Eu andava como louca de um lado para o outro, não conseguia administrar meu tempo, não conseguia cumprir com todas as minhas tarefas, não conseguia dar atenção aos meus amigos, não me permitia ficar à toa, sem fazer nada, só vendo o tempo passar, observando o comportamento do meu cachorro - que faz uma falta tremenda nessa Irlanda!
Lembro-me da minha preocupação, cada vez maior, de estar sempre "nos trinques" para o chefe não chamar atenção.
Trabalhava para ganhar dinheiro, mas gastava grande parte em roupa para chegar bem no trabalho, andava pela rua na paranoia de encontrar um sapato bonito que combinasse com a roupa e com o ambiente, ainda que me matasse de desconforto... perdia mais de uma hora da minha folga fazendo a unha, porque não queria fazer feio, mas ao chegar aqui e ver tantas mulheres sendo o que são e na hora que querem senti-me mais leve, mais livre.
Nos dias de sol parece que todos os irlandeses vão às ruas não só para pegar uma cor, porque eles são extremamente brancos, mas também para apreciar a vida.
No dia em que fiquei apreciando as flores e o céu, também tive o prazer de apreciar pessoas de várias idades fazendo a mesma coisa que eu.
Vi casais jovens, enamorados, deitados na grama, esperando o tempo passar... casais mais velhos, apaixonados, sentados nos bancos do parque como faziam, imagino eu, quando eram jovens... crianças brincando de bola, de corda... adolescentes com seus malabares... de tudo um pouco!
Sei que a sensação que tive naquele dia era de que a vida simples é mais aprazível.
É tão bom poder usar o que se quer, quando se quer... tão bom poder "perder" tempo pensando na vida! Entre aspas porque refletir sobre a vida, para mim, não é perda de tempo, mas uma maneira de vivê-la de forma ainda melhor, uma vez que a reflexão sempre nos faz enveredar por caminhos, teoricamente, melhores. Teoricamente porque nem sempre fazemos tudo certo. Aliás, o certo é relativo. O fato é que podemos até julgar como errado, mas possivelmente anos depois mudaremos de postura e encontraremos uma belíssima justificativa para aquele erro, que desta vez será visto como acerto.
Bem, sem mais delonga, segue o link da reportagem e o meu desejo de que lembremos sempre de valorizar não o que está ao nosso redor, embora isso também seja importante, mas mais do que isso: que lembremos sempre de ouvir o nosso interior, que lembremos das coisas simples, que deixemos de complicar, de trapacear, de dificultar... desejo que sejamos mais amáveis, honestos, humildes! Sobretudo, que resgatemos, no fundo de cada um de nós, a pureza que ainda existe.
http://catracalivre.com.br/geral/cidadania/indicacao/dicionario-feito-por-criancas-revela-a-adultos-um-mundo-que-ja-esqueceram/