terça-feira, 21 de maio de 2013

Vale a pena (vi)ver de novo!

Embalada por uma reportagem que me faz entrar em nostalgia, escrevo mais um post para este blog, que hoje em dia é a minha terapia.

A reportagem, cujo link colocarei logo abaixo para quem quiser conferir, fala de um professor que reuniu, durante dez anos, definições de palavras dadas por seus alunos, de diferentes idades. A conclusão à qual ele chegou foi que simplesmente crianças observam detalhes que os adultos sequer percebem, pois julgam-se "velhos" ou "grandes" demais para darem importância aos pormenores que, devo dizer, são capazes de dar novas cores a uma vida!

Como somos capazes de esquecer que temos paz quando perdoamos a nós mesmos? Como negar que é a nossa consciência limpa e leve que nos dá a sensação de serenidade?

Há definição melhor para uma mãe do que aquela pessoa que nos entende e depois vai dormir?

Fiquei arrepiada e com os olhos cheios de lágrimas enquanto lia a reportagem em voz alta para o amor da minha vida, afinal, como não compartilhar com quem amamos um fato tão singelo, tão cheio de sentimentos?!

O que me leva a escrever é o fato de eu ter resgatado um pouco dessa pureza ao chegar aqui na Irlanda. Vez ou outra pego-me observando a arquitetura de Dublin, o verde das folhas - que é completamente diferente do verde que temos no Brasil! E não adianta me perguntar, pois não saberei explicar. A única coisa que sei dizer é que parece que estou num filme em HD, mas num filme como os da Disney, cheio de cores vivas!

Desde que mudamos para Rathmines - aliás, maravilhosa região para se morar -, sinto o cheiro das flores toda vez que vou à rua. Agradeço sempre por estar morando no "melhor lugar do mundo".

No caminho para a escola temos a opção de passar por dentro do parque. Vocês são capazes de adivinhar por qual caminho eu opto?

É claro que eu sempre peço para o Matheus para irmos por dentro, pois adoro as cores fortes das flores que parecem de mentira, mas que são de verdade e que perfumam o parque inteiro só para te dar certeza.

Há algumas semanas tivemos o prazer de deitar na grama num dia de sol. Nossa! Que delícia! A grama estava úmida, mas o sol logo tratava de nos esquentar. Fiquei alguns minutos observando o céu, que estava incrivelmente azulado, e depois dediquei-me a observar as nuvens. Até fotografei algumas... e para deleite de vocês, aí está a foto, que não me deixa mentir!

Não sei em que momento da vida começamos a ficar acelerados, mas tenho certeza de que a vida seria muito melhor se esse momento não fosse obrigatório.

Hoje, conversando brevemente sobre a postura das pessoas aqui e no Brasil, lembrei da minha jornada diária antes de vir para cá.

Eu andava como louca de um lado para o outro, não conseguia administrar meu tempo, não conseguia cumprir com todas as minhas tarefas, não conseguia dar atenção aos meus amigos, não me permitia ficar à toa, sem fazer nada, só vendo o tempo passar, observando o comportamento do meu cachorro - que faz uma falta tremenda nessa Irlanda!

Lembro-me da minha preocupação, cada vez maior, de estar sempre "nos trinques" para o chefe não chamar atenção.

Trabalhava para ganhar dinheiro, mas gastava grande parte em roupa para chegar bem no trabalho, andava pela rua na paranoia de encontrar um sapato bonito que combinasse com a roupa e com o ambiente, ainda que me matasse de desconforto... perdia mais de uma hora da minha folga fazendo a unha, porque não queria fazer feio, mas ao chegar aqui e ver tantas mulheres sendo o que são e na hora que querem senti-me mais leve, mais livre.

Nos dias de sol parece que todos os irlandeses vão às ruas não só para pegar uma cor, porque eles são extremamente brancos, mas também para apreciar a vida.

No dia em que fiquei apreciando as flores e o céu, também tive o prazer de apreciar pessoas de várias idades fazendo a mesma coisa que eu.

Vi casais jovens, enamorados, deitados na grama, esperando o tempo passar... casais mais velhos, apaixonados, sentados nos bancos do parque como faziam, imagino eu, quando eram jovens... crianças brincando de bola, de corda... adolescentes com seus malabares... de tudo um pouco!

Sei que a sensação que tive naquele dia era de que a vida simples é mais aprazível.

É tão bom poder usar o que se quer, quando se quer... tão bom poder "perder" tempo pensando na vida! Entre aspas porque refletir sobre a vida, para mim, não é perda de tempo, mas uma maneira de vivê-la de forma ainda melhor, uma vez que a reflexão sempre nos faz enveredar por caminhos, teoricamente, melhores. Teoricamente porque nem sempre fazemos tudo certo. Aliás, o certo é relativo. O fato é que podemos até julgar como errado, mas possivelmente anos depois mudaremos de postura e encontraremos uma belíssima justificativa para aquele erro, que desta vez será visto como acerto.

Bem, sem mais delonga, segue o link da reportagem e o meu desejo de que lembremos sempre de valorizar não o que está ao nosso redor, embora isso também seja importante, mas mais do que isso: que lembremos sempre de ouvir o nosso interior, que lembremos das coisas simples, que deixemos de complicar, de trapacear, de dificultar... desejo que sejamos mais amáveis, honestos, humildes! Sobretudo, que resgatemos, no fundo de cada um de nós, a pureza que ainda existe.

http://catracalivre.com.br/geral/cidadania/indicacao/dicionario-feito-por-criancas-revela-a-adultos-um-mundo-que-ja-esqueceram/

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Despindo-me dos preconceitos- parte 1

Hoje foi um dia em que me despi de mais um preconceito brasileiro.

Eu e Matheus fomos à reunião do jornal Herold para ver se conseguíamos uma vaguinha (temporária). Fomos com pensamento positivo e cheios de energia, pois todos que trabalham ou conhecem jornal dizem, com todas as letras, que é ralação pura, pois ganha-se apenas 50 cents por cada jornal vendido. Sendo que trabalha-se de segunda a sexta, em média de 4 horas, faça chuva ou faça sol.

Imagem extraída de: http://www.bridgesbali.com/glimpse-of-a-last-paradise3.html

Vergonha?

Devo confessar que no início até senti, afinal, no Brasil eu era professora, já havia trabalhado numa empresa estatal como revisora, e lá, sempre que vemos alguém vendendo jornal, pensamos: coitado! trabalha feito um condenado para sequer ter uma vida digna!

Depois das primeiras filas de carro, a vergonha foi sumindo. Senti-me feliz por ter alguma forma de ganhar dinheiro, ainda que pouquíssimo, e mais feliz ainda por poder agradecer, mesmo àqueles que me diziam que não comprariam o jornal, sorrindo. Senti-me feliz por fazer as pessoas sorrirem enquanto enfrentavam um trânsito danado para voltar para suas casas.

Fiquei pensando que no Brasil jamais seria assim. São raras as pessoas que retribuem o sorriso do sujeito que passa apressado ao seu lado ou mesmo do sujeito que tenta lhe vender um jornal, uma bala ou coisa do tipo.

No entanto, apesar das diferenças que sempre venho apontando não só por aqui, mas por mensagens quando as pessoas vêm falar comigo, consegui identificar algumas semelhanças. E aí, já não é mais mérito da educação, mas penso que entramos na questão do sujeito.

As pessoas mais ricas (financeiramente falando) são, em geral, também as mais pobres de espírito. Algumas me olhavam da cabeça aos pés, outras sequer sorriam de volta, e NENHUMA delas, embora tivessem muito dinheiro - a julgar pelos carrões, bons celulares e boas roupas - comprou um jornal.

O que tiro dessa segunda (depois conto a primeira - e terrível! )experiência de emprego aqui na Irlanda?

Muita coisa! mas muita coisa boa! Como o título sugere, hoje despi-me daquela vergonha (própria e alheia) de trabalhar num subemprego, no qual as pessoas te olham como inferior.

Fiquei feliz de poder dar às pessoas que passaram por mim - e posso dizer que foi uma maioria - um sorriso, uma leveza, enquanto enfrentavam um trânsito no caminho de volta às suas casas.

Não penso em fazer disso um emprego, naturalmente, mas apenas um degrau. Afinal, o dinheiro arrecadado no jornal não é suficiente para nos manter aqui. No entanto, já é uma experiência irlandesa que podemos colocar no currículo. Além disso, ajuda-nos a trabalhar muitas questões sociais dentro da nossa cabeça, que se abre cada vez mais.

O post é curto, mas recheado de gratidão. Estou feliz pela experiência, apesar de toda ralação e de toda a dor que estou sentindo agora, afinal, os jornais são pesados, e temos que carregá-los sozinhos até o nosso ponto de vendas.

Até o próximo post!

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Rá!

Esse aqui é especialmente para quem achou que eu ficaria só no primeiro post, inclusive eu. Rá! Venci! E aqui estou... pensando em algo interessante para escrever. Aliás, nem sei se o que escrevi primeiro foi interessante, mas vamos lá!

Estava cá com meus botões pensando na minha vida irlandesa. Vida boa, leve, mas cheia de preocupações. Aliás, desde que me entendo por gente grande - e quem me conhece sabe que não falo de estatura -, preocupação é um sentimento que faz parte de mim. Vivo em pé de guerra com o amor da minha vida por causa disso.

Ele sempre relaxadão, acreditando em todo mundo, fazendo contas por baixo... e eu louca, querendo que nada dê errado nunca, desconfiando até da própria sombra, fazendo as contas com os valores mais altos possíveis a fim de que nada nos falte na hora "H".

Às vezes me pergunto qual é a melhor maneira de se viver, se preocupado, minimizando sempre as chances de as coisas caminharem para um lado diferente do que a gente espera, ou relaxado, se adequando sempre às novas situações. Acontece que sempre chego à conclusão de que não há o certo para isso, mas o ideal, e este seria conseguir equilibrar essas duas formas de levar a vida. Mas como é difícil, viu?!

Quando eu e Matheus decidimos viajar, inicialmente, viajaríamos por apenas um mês. Nossos planos mudaram quando vimos que o custo da viagem seria o mesmo, tanto para um mês, quanto para um ano, sendo que neste último caso viríamos com a possibilidade não só de voltar com o inglês muito melhor, como também com a possibilidade de conseguir um emprego, cobrir os custos que tivemos e ainda viajar pela Europa antes de voltar.

Com esse pensamento encaramos o intercâmbio de seis meses, já imaginando a possibilidade de ficarmos por aqui durante um ano ou mais, dependendo de como tudo ocorresse. Ocorre que aqui chegamos e ficamos deslumbrados com a qualidade de vida. Não é síndrome de emergente, que depois que "cresce" resolve pisar naquilo que foi, tampouco síndrome do brasileiro riquinho que sai do país para passear, justamente porque não somos nem de um tipo nem de outro. Ralamos muito para conseguir juntar a grana que usamos para estar aqui e estamos ralando até hoje para conseguir um emprego que nos dê a possibilidade de realizar nosso sonho do jeitinho que ele foi sonhado quando estávamos no Brasil.

Não adianta só dizer que ficamos deslumbrados, né? Acho que talvez seja mais válido explicar a razão. Vou tentar escrever sobre alguns aspectos que observei durante esse tempo.

1 - Educação: Aqui as pessoas são MUITO educadas. Você não recebe um atendimento sem ouvir um "obrigado" ou nenhuma solicitação sem um "por favor". Existem pessoas mal educadas? É óbvio que sim, mas essas, sem a menor sombra de dúvida, fazem parte de uma minoria, enquanto no Brasil, temos o oposto.

2 - Aqui os comerciantes cobram exatamente o preço que está marcado na etiqueta! Se tiverem que te dar 0,01 de troco, esteja certo: darão. E você não precisa pedir nem esperar! Preciso falar sobre o Brasil?

3 - Com o salário mínimo daqui o sujeito consegue ter uma casa, comer, vestir-se e, se for esperto, ainda consegue juntar grana para viajar. Dentro do contexto brasileiro, pergunto-lhe: sobrevive-se com quanto? Com o mínimo sabemos que não é.

4 - Os horários de rush são os mesmos que conhecemos no Brasil, com a diferença de que se está engarrafado, está engarrafado. Todos aceitam o fato e simplesmente respeitam a fila, os sinais, os pedestres... sem falar no respeito que eles têm pelos ciclistas, que andam junto dos carros e NENHUM acidente acontece. Eles param que os ciclistas atravessem, peguem a outra pista, etc. Raramente escuta-se o som de uma buzina. Estou aqui há quase cinco meses e posso dizer que se ouvi alguém buzinar cinco vezes foi muito.

5 - As mulheres vestem-se do jeito que querem, na hora que querem, enchem o rosto de maquiagem a qualquer hora do dia sem que ninguém critique-as por isso. Quer respeito maior do que esse? É claro que não me despi completamente do comportamento tolo de julgar o próximo e julguei várias delas enquanto passavam por mim pela rua sem nem me reparar, mas o fato é que elas podem ser o que gostam de ser sem que ninguém fique ditando o que devem vestir, quando devem vestir, por que diabos aquela cor é melhor do que a outra e mais um monte de imposições babacas a que estamos acostumadas e acabamos seguindo sem nem nos questionar sobre a razão de existirem.

6 - As leis são respeitadas. Aqui não se pode vender bebida alcoólica depois das 22:00, a não ser em pubs, bares e restaurantes. Quando eu digo que é proibido, é proibido mesmo! Ninguém viola! Nem a loja de conveniência mais escondida.

E a pior impressão que tive foi a da desunião do brasileiro! Nossa! É engraçado, mas ao mesmo tempo triste, aliás, mais triste do que engraçado. Quando em "casa", achamos que todas as pessoas são competitivas, somos criados para vencer o outro, estudamos para sermos melhores que os demais e conquistarmos a nossa vaga, escolhemos nossa profissão para sermos melhores do que aquele que dirige o ônibus ou limpa o chão... enfim. Somos, mais uma vez, acostumados a isso. Ao chegar aqui continuei vendo o mesmo comportamento do povo brasileiro, diferentemente das outras nacionalidades.

Afirmo com propriedade que são raríssimos os brasileiros que estão aqui dispostos a ajudar quem chega. Só não sei por que diabos as pessoas se recusam tanto a ajudar o próximo. Aliás, pior que isso, ainda te pisam se for possível.

Eu não sei de onde é que sai aquela união que leva todo mundo a se abraçar quando aqueles jogadores entram em campo e vão jogar por um Brasil completamente segregado. Sim, porque somos, sim, egoístas, egocêntricos! Só somos uma pátria quando falamos em futebol. Não vou entrar no mérito do "pão e circo" nem nada disso porque nem tenho propriedade para falar, mas que me parece muito estranho esse sentimento de nacionalismo repentino, ah! parece! e não há como esconder.

Constato: temos QUASE tudo para dar certo, só nos falta inteligência e humildade.



domingo, 12 de maio de 2013

A razão de existir

Pensei na criação deste blog enquanto tomava um delicioso banho - parece que esses momentos inusitados são sempre os melhores para criação! - quente, não de banheira como eu gostaria, mas ainda assim, quente, logo, gostoso.

Enquanto a água caía eu me lembrava de tudo que eu já havia começado na minha vida e interrompido por alguma razão. Ok, nem sempre com razão. Aliás, muitas das vezes sem razão. E então resolvi criar este blog para nadar contra a maré da minha sinuosa vida de atividades.

Se quiserem, aliás, seria melhor dizer permitirem, posso fazer uma coleção de atividades interrompidas aqui, para começar, enumero 10.

1- Ballet
2 - Dança do ventre
3 - Academia
4 - Curso de inglês (tentei várias vezes!)
5 - Ginástica Olímpica
6 - Blogs (foram alguns!)
7 - Juntar dinheiro
8 - Pesquisa acadêmia
9 - Leitura de livros (sim, no plural!)
10 - Catecismo

E isso foi só para começar.

A fim de não delimitar um espaço que criei para fazer minha própria terapia, registrarei aqui momentos diversos das minhas vidas; a real e a imaginária.

Quem nunca se imaginou num personagem fazendo tudo aquilo que julga ou que tem vontade de fazer?

Pois bem! Resolvi me dar asas. Veremos o quão alto sou capaz de voar. Espero que gostem e que eu consiga acrescentar algo de bom a alguém, afinal, tenho alma de professora.