sábado, 15 de junho de 2013

Sobre o meu emprego

Conforme dito, consegui emprego! Aêêêêêê!

Depois de cinco meses enviando currículos pela internet, tentando estabelecer contato e deixando em mãos de gerentes e  outros empregados, consegui um emprego.

Acho que consegui, primeiramente, por ter tirado a nacionalidade brasileira do currículo, depois por ter dado a sorte de enviar o meu resumé na hora certa para a pessoa certa, e esse contato, pasmem! veio da minha tentativa desesperada de conseguir emprego.

A tentativa desesperada foi redigir um post falando na nossa situação, que estava braba: não tínhamos dinheiro para o aluguel do mês seguinte e todas as nossas compras de mercado estavam sendo passadas no meu cartão de crédito do Brasil, sem falar que eu não tinha passagem de volta comprada para o Rio.

Pois bem, redigi um breve texto e postei no Classificados Dublin, claro que esperando ouvir mais críticas do que ajudas!

Felizmente, o oposto aconteceu: recebi muitas mensagens de pessoas dispostas a ajudar da forma com que podiam. Nenhuma delas com indicação, como a gente precisava naquele momento, mas todas com muito carinho, consideração e boa vontade. Recebemos muitos e-mails e sites de pessoas e lugares que estavam contratando.

Depois de agradecer a cada uma das pessoas que tentaram de nos ajudar, comecei a disparar meus currículos.

Felizmente, um deles caiu na mão de uma pessoa que estava precisando de algumas pessoas para completar seu quadro de funcionários com certa urgência, pois mandei meu currículo às 23:00 e no dia seguinte, por volta das 10:00, recebi uma ligação com uma proposta de entrevista. E lá fui eu, óbvio. Insegura por causa do inglês, mas segura de que se fosse pela minha vontade de conseguir o emprego, a vaga seria minha.

Durante a entrevista a gerente elogiou o meu inglês, o que me deu segurança para falar mais da minha vida, embora eu "tropeçasse" algumas vezes na pronúncia. Logo ali, na salinha da entrevista, ela olhou o quadro de horários e marcou comigo um treinamento.

Trabalhei durante três dias e me mandaram voltar na semana seguinte.

Na segunda-feira da semana que eu tive que voltar recebi a feliz notícia de que eu fazia parte do quadro de empregados e que eles estavam redigindo o meu contrato.

Vocês devem estar se perguntando qual é o meu emprego agora...

Pois então, é deli assistant.

Sou responsável, junto a uma irlandesa, por preparar os sanduíches, deixar tudo limpo, cortar os legumes, preparar as saladas, assar os pães, bolos, muffins e croissants, etc. A função se assemelha a um faz-tudo da cozinha!

É claro que não é o emprego dos sonhos, especialmente porque adorei as experiências que tive em minha área - para quem não sabe, magistério -, mas é uma experiência pela qual eu tinha que passar para aprender algumas coisas, inclusive inglês!

E quando digo isso é porque a única forma de me comunicar durante as horas em que trabalho é através da língua inglesa.

Nos primeiros dias tive dificuldade com alguns sanduíches específicos e alguns molhos diferentes, mas hoje já me sinto bem mais à vontade, inclusive, para dialogar com o cliente quando há oportunidade.

Sem falar na minha companheira de trabalho, a Suzanna, que é uma irlandesa para lá de amiga e tem uma paciência de Jó para repetir tudo que eu não entendo.

Já cansei de ouvir um cliente dizer alguma coisa estranha aos meus ouvidos e depois ir até a ela perguntar: mas o que foi que ele disse mesmo, hein?

E ela, com a maior paciência e alegria, repete e ri da minha fase de aprendizado.

Dentre as outras coisas que tenho aprendido, posso falar, mais uma vez, das mais simples; sim, sempre elas! Aliás, a Irlanda tem me feito muito bem nesse sentido, pois diariamente reconheço o valor delas.

Hoje, enquanto organizava/limpava/prepara as coisas na deli, vi um rapaz cego adentrando a loja. Como ele tinha ido ontem e vi que a menina do caixa ia até ele ver o que ele queria, avisei ao Martin, também irlandês, que havia um cliente na porta.

Ele cumprimentou o rapaz cego pelo nome, Kevin, e o atendeu pacientemente. Eu fiquei arrepiada e emocionada.

Ele tinha ido até a nossa loja para comprar um sanduíche feito no pão integral, com manteiga, peito de frango e alface. Tão simples quanto o momento que eu estava presenciando. Talvez o sanduíche que preparei para ele tenha sido um dos que preparei com o maior carinho dentre todos que preparei até hoje. Sim, porque eu me preocupo em fazer com cautela aquilo que o cliente solicitou.

Minutos antes de receber o sanduíche, Kevin entregou as moedas na mão do caixa, que descontou exatamente o valor do sanduíche e devolveu o troco, e depois agradeceu e saiu pela loja, com o seu cão guia, que era lindo e super companheiro, pois não desgrudava os olhos do seu dono.

Fiquei impressionada com tamanha fidelidade (do cão) e confiança (do homem nos homens e no cão).

Agradeci muito por poder enxergar e senti-me ainda mais feliz por ter ido trabalhar hoje. Se eu tivesse ficado em casa, jamais observaria essa cena como observei hoje.

Procurei uma imagem que ilustrasse a cena, mas não encontrei nenhuma que chegasse aos pés, então, deixo esse trabalho para a imaginação de vocês.

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